terça-feira, 14 de abril de 2009

Novas estratégias de superovulação em zebuínos

Existem algumas diferenças fisiológicas entre Zebuínos (Bos indicus) e Taurinos (Bos taurus) que podem afetar o resultado da técnica de superovulação e transferência de embriões. Portanto, neste artigo serão apresentados alguns dados publicados recentemente ("Superovulation and embryo transfer in Bos indicus cattle" - Baruselli et al., 2006) em um artigo de revisão sobre os avanços na superovulação em Zebuínos.

Sincronização da onda folicular
Os autores discutem que a melhor maneira de se controlar a emergência da onda folicular é a associação entre estrógenos de meia vida curta (ex: benzoato de estradiol) na dose de 2mg (i.m.) associados ao tratamento com progesterona injetável (50mg, i.m.) no mesmo dia da inserção de dispositivos de progesterona/progestágenos. Esta associação hormonal causa a emergência sincrônica de uma nova onda folicular após cerca de quatro dias. Deste modo os tratamentos com gonadotrofinas devem ser iniciados no quarto dia após o tratamento com estradiol e progesterona, ou seja, no dia da emergência esperada da nova onda folicular.

Dosagem de gonadotrofina a ser utilizada
Outro aspecto discutido pelos autores é a dosagem de FSH que deve ser utilizada em tratamentos superovulatórios em Zebuínos. Sabe-se que os Zebuínos têm uma maior sensibilidade ao tratamento com gonadotrofina se comparado com os Taurinos e que é possível diminuir a dosagem de FSH que é utilizado nestes animais (Bos indicus) se comparado com animais Bos taurus. Neste sentido, os autores relatam que não houve diferenças na produção de embriões entre os grupos tratados com 100, 133, ou 200mg de FSH (Folltropin-V). Os dados estão na tabela abaixo:



Baseado nos dados acima, os autores concluíram que é possível diminuir a dose do tratamento superovulatório para Zebuínos.

Procura e Avaliação dos Embriões

No laboratório é feita a procura dos embriões com auxílio de um estéreo-microscópico. Uma vez recuperados, os embriões são avaliados quanto ao seu desenvolvimento e aspectos morfológicos, seguindo a classificação proposta pela Sociedade Brasileira de Transferência de Embriões (S.B.T.E.):
Mórula - Apresenta-se como uma massa de células com separação nítida entre os blastômeros, e ocupa quase a totalidade do espaço perivitelino.
Mórula Compacta - Os blastômeros estão agregados entre si, formando uma massa compacta de células e ocupam cerca de 70% do espaço perivitelino.
Blastocisto Inicial - Nesta fase pode ser observado o início da blastocele. Começa a ocorrer a diferenciação entre trofoblasto e botão embrionário.
Blastocisto - Ocorre uma evidente diferenciação entre células do trofoblasto e botão embrionário.
Blastocisto Expandido - O embrião ocupa todo o espaço perivitelino. O líquido da blastocele empurra o trofoblasto contra a membrana pelúcida.
Blastocisto em Eclosão - Início da saída da membrana pelúcida.
Blastocisto Eclodido - O embrião está completamente livre da membrana pelúcida.

Coleta de Embriões

A coleta de embriões bovinos é feita através de uma lavagem uterina, com auxílio de uma sonda de duas vias (Foley, Rusch) instalada no corpo do útero. O líquido para coleta dos embriões é introduzido e recuperado do útero por gravidade e, posteriormente, filtrado.

O que é melhor utilizar como receptoras: vacas ou novilhas?

As duas – depende do que esteja disponível. Vacas velhas com mais de quatro parições devem ser evitadas. Alguns praticantes preferem novilhas devido a menor possibilidade de existência de doenças reprodutivas. Os fatores mais importantes que devem ser considerados na seleção de receptoras são a detecção precisa do cio e um adequado manejo (alimentar e sanitário).

Qual é o melhor momento para iniciar a coleta de embriões da doadora?

Tão logo saiba que um aumento do número de bezerros de uma determinada vaca pode resultar em um ganho econômico, seja pelo aumento da produção, seja pela venda da progênie. Novilhas maduras podem ser coletadas desde a idade de 11 meses, na condição de estar ciclando normalmente e crescendo conforme os padrões da raça. As vacas podem ser coletadas a partir de 8 semanas após o parto, com tanto que estejam sem problemas sanitários e ciclando, de preferência tendo previamente manifestado dois cios.

O tratamento de superovulação afeta a fertilidade da vaca?

Raramente. Após a coleta, a vaca recebe uma injeção de prostaglandina que tem como propósito eliminar o corpo lúteo (fonte da progesterona) para evitar uma possível gestação múltipla (alguns embriões podem ter permanecido no útero após a coleta) e para retornar à normalidade seu ciclo estral. No próximo cio, as chances de ficar prenhe são semelhantes às de suas contemporâneas não superovuladas.

Quantas vezes podem ser coletadas uma vaca e com que frequência?

Não existe um número específico. Podem ser realizadas tantas colheitas de embriões quanto desejadas enquanto a vaca continue a responder ao tratamento de superovulação. Isto pode variar de um indivíduo a outro; algumas vacas apresentam várias respostas positivas consecutivas. Outras necessitam um descanso entre programas. Esse descanso significa permitir à vaca ciclar naturalmente duas ou três vezes ou emprenhar a vaca e esperar o parto antes de retomar as coletas.
Uma vaca pode ser coletada com intervalos de 6 a 8 semanas. Esse período possibilita à vaca entrar no cio após a coleta e retomar a programação para aproxima coleta.